Estou fazendo uma pesquisa sobre as Bandas de Brasília não
PUNKS ou as que eram, mas ninguém quase fala hoje em dia, como Mantenha Distancia, Cólica, etc. É uma tentativa de lembrar e encontrar outros trabalhos do pessoal que eram da galera e também dos que não eram. Tem, por exemplo, o Liberdade Condicional, que arrebentava na época, o
Akneton,
Haroldinho Matos, Mel da Terra, Fusão, Unidade Móvel,
Zamba, entre outras. Algumas dessas eu participava na produção, noutras cheguei a tocar... resumindo: nessa pesquisa, acabei achando essa matéria que fala até do
XXX, que depois virou Escola de Escândalos - minha Banda Preferida.
Às vezes acho que seria legal escutar a história pelas pessoas que viveram a época e não ficaram famosos... acho que teríamos uma visão bem interessante, diferente e próximo de uma
ideia mais real do que foi Brasília, os jovens, os movimentos, as festa, o tédio e a musica nessa época....algo para se pensar!
Aos poucos vou começar a desenvolver esse assunto dentro desse prisma. Vamos ver no que vai dar
hahahahahahaha.
Uma vez por mês vou trazer algo. :-)
Por enquanto segue esse achado...
Beijos!!!
DRI MICHELSRenato Russo & Aborto
Elétrico, a história do rock de Brasília
*
Olímpio Cruz Neto
No final dos anos 70, quando o país já rumava para a reabertura política - lenta e gradual, como havia imposto o general
Golbery do Couto e Silva, ex-chefe da Casa Civil do governo João Figueiredo -, Brasília também sofria com o fato de estar à sombra do poder dos militares. Antes da
anistia política, em 1979, pouco ou nada havia para os garotos filhos da classe média que ocupava cargos na máquina administrativa pública. "Não havia o que fazer", afirmou Renato, em entrevista concedida ao jornalista Celso Araújo (líder da banda
Akneton), em 1984.
Não havia mesmo. Quando Renato era pouco mais que um adolescente, aos 16 anos, adorava as grandes bandas de rock dos anos 60 e 70, além do poeta
Bob Dylan, o que o levava a divagar, nas tardes secas de Brasília, como seria montar um grupo de rock. Tímido e desengonçado, Júnior pensava ser o líder de uma banda –
Forty Street Second Band -, na qual participariam
Jeff Beck,
Mick Taylor e outras figuras lendárias do rock. Júnior era
Eric Russel, o cantor da banda.
Nascia ali, sem saber, o embrião da
persona Renato Russo. Mas até aquele momento, só as paredes do quarto de Renato, que morava com os pais num apartamento funcional do Banco do Brasil, na 303 Sul, sabiam dessa sua banda. Eram divagações e sonhos na mente juvenil do rapaz franzino que usava óculos e era desajeitado devido a uma doença que o mantivera paralisado, na infância, por quase dois anos.
Tudo vinha assim, sem muita pretensão até que, em 1977, eclodiu na Inglaterra o movimento
punk: a revolta dos filhos da classe operária inglesa contra o
establishment britânico e a pompa que cercava a Rainha
Elizabeth e as lendas do rock. Aquilo foi o estalo para Renato Russo, que descobriu a existência e o nascimento do
punk lendo as páginas da revista
Pop (única publicação nacional que falava sobre rock no final da década de 70), numa matéria especial sobre a nova cena musical na Europa, a explosão do movimento nos Estados Unidos e um disco com algumas bandas...
Renato estava na 907 Sul, no prédio da Cultura Inglesa, a tradicional escola de língua inglesa de Brasília, quando conheceu o escocês
Ian, que acabara de chegar do Reino Unido falando das maravilhas da canção
Anarchy In the U.K, do
Sex Pistols... Renato ficou maravilhado com o papo. Nessa época, após oito anos de estudo, ele praticamente morava dentro da Cultura Inglesa, devorando livros e revistas sobre música e cultura. E também dava aulas.
Era um cara muito bem informado para a sua idade. "Sabia um pouco menos que praticamente tudo sobre cinema e música americana e, aquilo que ele não sabia, tinha imaginação suficiente para inventar", lembrava, em 1985, o jornalista
Alcimar Ferreira, amigo de Renato nos tempos da Cultura Inglesa e com quem estudou na Faculdade de Jornalismo do
Ceub. "O
blefe era seu trunfo capital, que tornava exasperantes nossas muitas
polêmicas pelos corredores do
Ceub, a respeito sempre do mesmo tema: música".
Verdadeira enciclopédia de rock - tinha centenas de discos em casa - Renato era capaz de citar, infinitamente, nomes de
trocentas bandas, desde as óbvias até as mais obscuras. "Algumas eu tinha absoluta certeza de que não existiam, porque eu lia de maneira contumaz todas as revistas inglesas e americanas, que nunca citavam aqueles grupos de nomes geniais", disse Ferreira. O colega de faculdade também mostrou-se convencido que Renato estava
blefando quando, pouco antes da Legião lançar seu primeiro disco – o
homônimo Legião Urbana -, disse em uma entrevista que andava ouvindo - "assiduamente" - o
Menudo, grupo que acabou homenageando no Acústico, lançado postumamente. "
Blefe. O tipo de
trucagem na qual ele (Renato) é mestre: dizer
exatamente aquilo em que está longe de acreditar", afirmou o jornalista.
Ainda em 1979, um grupo de estudantes de Jornalismo, colegas de Renato no
Ceub, se juntaram para lançar um livro de poemas, chamado Sinal. Ferreira lembrou, em texto escrito no Jornal de Brasília, seis anos depois: "O poema de Renato foi escrito num
jato, um longo
box verbal, uma pulsação
ginsberguiana, um acerto artesanal com as palavras, ainda que faltasse a cirurgia, faca amolada". O livro é exemplar raro hoje em dia e poucos o têm.
Renato era um bom garoto, ainda adolescente. Inteligente e intuitivo, não parecia que se tornaria o cara com o discurso afiado visto em Que País É Este? ou Conexão
Amazônica, marcas registradas da sua primeira banda: o Aborto
Elétrico. Sua mudança radical ocorreu mesmo em 1978 quando encontrou-se com
Felipe Lemos.
Fê era filho de professores universitários e tinha acabado de chegar de Londres, depois de uma estadia com os pais na Inglaterra. Debaixo do braço, alguns discos de rock, quase os mesmos que seriam colocados por Renato para tocar numa festa, em que os dois se encontraram. De cara, ficaram amigos.
"A gente não se
desgrudava e o Renato ia na minha casa todos os dias", lembrou o baterista do Aborto
Elétrico e do Capital Inicial, em entrevista publicada na
Showbizz, em maio de 1997.
Fê morava na Colina, o conjunto de prédios localizados no
campus da Universidade de Brasília, que passou a ser o centro do "movimento"
punk de Brasília. Lá, ambos fizeram amizade com outros caras, que também se identificaram com os três acordes que eram a matriz do som feito por
Ramones,
Clash,
Sex Pistols e
Comsat Angels. A Turma da Colina reunia
Loro Jones e o irmão Geraldo Ribeiro (futuros integrantes da
Bltx 64, depois Capital Inicial e Escola de Escândalo), André
Müller e o irmão Bernardo (
Metralhaz, depois Plebe Rude e Escola),
Gutje Woorthman (fundador da
Blitx 64 e depois da Plebe),
Bi Ribeiro (
Paralamas) e muitos outros. No começo, não passavam de uns 20 moleques. Dedicavam suas horas a ouvir discos, promover festas, passear pelas quebradas de Brasília...
Fê era amigo de André
Pretorius, um sul-africano filho de diplomatas, que morava em Brasília e ostenta - de fato - o título de primeiro
punk da cidade. Os dois, mais André
Müller,
planejavam montar uma banda, que acabou não acontecendo, porque André, dessa vez, mudou-se para a Inglaterra. Renato resolveu topar a parada e montar sua própria banda, convidando André e
Fê. O nome do grupo surgiu numa tarde de papo furado, no térreo dos blocos de apartamentos da Colina.
"A gente
tava sentado no chão, pensando qual seria o nome da nossa banda. Eu
tava com um negócio de
elétrico na cabeça e alguém falou comigo tijolo
elétrico. Aí o André
Pretórius falou: não, Aborto
Elétrico", lembrou
Fê à
Showbizz, desmentindo a lenda de que o nome teria surgido em
decorrência de uma invasão do
campus da
UnB pelo Exército, numa das famosas
ações do governo durante a ditadura militar, quando uma estudante universitária teria perdido o filho em
decorrência de um
cacetet elétricos utilizado por um soldado mais afoito. A primeira apresentação ocorreu muito tempo depois, em 1980, quando resolveram fazer um
show no Só Cana, o extinto bar localizado no Gilberto Salomão, no Lago Sul, bairro de classe média alta.
"Nós fomos, levamos umas coisas, o
Fê estava com
caxumba, febre de 40 graus e, quando terminamos o
set de cinco músicas, o pessoal reagiu com:
Êhhhh! De novo! Porque brasileiro gosta muita de zona. Então, dá-lhe zona. Eles não entenderam nada: todo mundo parado... Aí tocamos as cinco músicas de novo e, pelo que eu soube, a cidade inteira falou disso depois. Porque, primeiro, ninguém tinha ouvido falar de um grupo de música chegar e tocar de graça e ainda fazer aquele barulho. E o guitarrista loiro (
Pretorius), sangrando a guitarra. O Aborto
Elétrico era assim –
Paaammmm!!! E não era rápido – era lento, tipo (
Sex)
Pistols. Aí o que aconteceu, a cidade começou a falar. Nos colégios de classe média –
Objetivo, Elefante Branco,
Marista... – o comentário era: Você viu? Aqueles caras são
maconheiros,
bla blá blá...", lembrou Renato, em entrevista à jornalista
Sonia Maia, publicada na revista
Bizz abril de 1989.
O grupo logo começou a realizar apresentações mais ou menos constantes, em qualquer lugar onde pudessem arrumar uma tomada
elétrica. O
Food’s, antiga
lanchonete situada entre a 110 e 111 Sul, era um dos
points do Aborto e das outras bandas que surgiram logo depois na esteira. Na época eram três grandes bandas:
Metralhaz,
Blitx 64 e Aborto. As três bandas, embriões das quatro grandes bandas brasilienses dos anos 80 – Legião Urbana, Capital Inicial, Plebe Rude e Escola de Escândalo – tocavam em festas, nas quadras, em bares como o
Cafofo, na 409 Norte, na
UnB, nos colégios...
Em 1981,
Pretorius mudou-se do Brasil e voltou para a África do Sul com o pai diplomata – "servir ao Exército e matar os negros", disse Renato, que assumiu a guitarra. Flávio Lemos, irmão de
Fê, passou para o baixo e a banda continuou. Os Lemos mudaram-se para o Lago Norte, abrindo um novo local para os ensaios da banda, que passou a dividir o espaço com uma nova banda: a Plebe Rude. "Passávamos os ensaios
sacaneando o Renato, desligando a chave geral da casa", recorda Philippe Seabra. Nesse período, a turma cresceu, passando a fazer grandes
agitos, pintando camisetas, confeccionando seus próprios
badges,
pichando os muros e pontos de
ônibus da cidade.
Renato era tão convicto do que fazia que tinha bolado em casa a capa e o encarte do LP do Aborto, que jamais foi lançado, claro. Dentro da capa do disco, um LP com um selo colado por cima. O sonho do disco próprio não era tão maluco assim, afinal em 1980 uma banda de Brasília já havia lançado um disco independente.
Era o
Tellah, a primeira grande banda brasiliense, na época, de quem Renato era fã e enchia o saco para descolar um
show conjunto. "Os caras eram músicos de verdade e tinham prestígio", disse em entrevista ao Correio
Braziliense, em 1985. Haviam outros grupos, como o Liga Tripa e o Fusão, além da galera do Artimanha, que fazia jazz e música instrumental. É verdade que o compositor Renato Russo já tinha nascido e boa parte do repertório inicial do Capital e da Legião foram gerados ainda dentro do Aborto. É dessa época, por exemplo, músicas como Conexão
Amazônica, Música Urbana, Tédio (com um T bem grande
prá você), Veraneio
Vascaína, Que país é este?, Fátima, entre outras pérolas que se tornaram clássicos do rock brasileiro.
A banda estava no auge em Brasília quando uma briga entre
Fê e Renato acabou com tudo. "Eu briguei com o
Fê por causa da música Química", disse Renato. "Nessa época estávamos
supersofisticados, ouvindo sei lá o quê –
Joy Division, essas coisas e eu cheguei com aquela música: Não saco nada de química... E eles:
Pô, Renato, você está atrasado..."
Fê bateu pesado: "Você está perdendo seu jeito de fazer música". Depois, reconheceu que errou em seu pré-julgamento: "Que bobagem minha! Hoje a música é um clássico".
Antes, outro desentendimento tinha deixado a relação de amizade entre os dois estremecida. Em
dezembro de 1981, no primeiro aniversário da morte de John
Lennon – ídolo de Renato – o Aborto realizou um
show em
Taguatinga. "O Renato estava super sentido. Quando ele errou uma música, atirei uma
baqueta nele e acertei na cabeça. Ele me olhou com uma cara horrível e sumiu depois do
show. Fui na casa dele e só faltou me jogar aos seus pés...", lembrou
Fê. A banda morreu, contudo, em
março de 1982. "Eram baladas com uma história (começo, meio e fim) bem diferentes do seu estilo junto ao Aborto
Elétrico. Inevitavelmente, essa mudança começou a chamar atenção a atenção de pessoas menos ligadas – havia os que detestavam de verdade – ao movimento
elétrico da cidade. Agora era possível compreender as letras das músicas, o que tinha sido impossível até então, devido a problemas com microfones e volume alto demais", escreveu o próprio Renato num
proto-
release press, em maio de 1982. Ele chegou a gravar algumas dessas composições numa fita k7, em que brincava de locutor de uma imaginária Rádio Brasília.
Essa fase violão e voz durou até
agosto daquele ano. Nesse mês, Renato resolveu montar uma nova banda. Encontrou-se com Marcelo
Bonfá, baterista
egresso do
SLU – uma brincadeira com a sigla da companhia de lixo de Brasília, Serviço de Limpeza Urbana, e que tinha tido uma rápida passagem pelo grupo Dado e O Reino Animal -, numa festa organizada por André
Müller. A
idéia, segundo Renato, era montar um núcleo mínimo para a banda – baixo e bateria – e convidar guitarristas esporadicamente para tocar como convidados. A
idéia em gestação, entretanto, não foi para frente. A banda, entretanto, já tinha nome: Legião Urbana.
O guitarrista que se fixou, inicialmente, foi Eduardo Paraná ou
Kadu Lambach, ex-Boca Seca. E a banda incorporou o
tecladista Paulo Paulista, que estreava como músico aos 16 anos, mas manteve-se na banda por pouquíssimo tempo. Com essa formação, a banda se apresentou, em
fevereiro de 1983, em Patos de Minas (
MG), junto com a Plebe Rude – a banda mais importante de Brasília naquele momento -, na chamada Feira do Milho. A
estréia acabou com um pequeno problema entre as duas bandas e a polícia local. A Plebe detonou a canção Vote em branco e mexeu com os brios do poder local. Todos acabaram em cana.
"Vivíamos o governo Figueiredo e estava cheio de polícia no lugar. Enquanto tocávamos, André
Müller, conversava com os peões da
platéia, jogando todo aquele papo socialista que a gente já conhece das músicas da Plebe Rude. Durante o
show, eles perguntavam aos trabalhadores o que achavam do salário que recebiam, se concordavam com as condições em que viviam... Foi só descermos do palco, que havia uma fila de policiais nos esperando para nos levar para a delegacia", lembrou
Kadu Lambach, o Paraná, em entrevista à
Showbizz, em 1997.
Kadu ficou na banda por pouquíssimo tempo também, fazendo ainda mais três
shows, inclusive dois realizados ao ar livre, no Teatro do Cave, no
Guará, e na Ciclovia do Lago Norte, onde tocaram grande parte do repertório do Aborto e duas canções próprias, jamais gravadas: Carne Clandestina e O Cachorro. A primeira era fruto da vivência de Renato como repórter do Jornal da Feira, editado pelo Ministério da Agricultura.
Kadu saiu, por iniciativa própria, em
decorrência das divergências musicais com Renato e
Bonfá. Era um virtuoso na guitarra, algo que não agradava os garotos que
adotaram como lema o do
it yourself sugerido pelos
punks ingleses. A pressa em descolar um substituto para
Kadu, que deixou a banda para se dedicar à música, se justificava. Em
abril, o grupo era uma das estrelas da chamada Temporada do Rock Brasiliense, realizado durante dois finais de semana no Teatro da Associação Brasileira de Odontologia (
ABO). Além da Legião, apresentaram-se as outras bandas importantes da cena local: Plebe Rude, Capital Inicial e
XXX, que depois geraria o Escola de Escândalo, e a Banda 69.
"Como havíamos alugado o teatro, ficamos ensaiando lá
direto", lembra Dado. "A gente era quase
hardcore, mas como as melodias do Renato eram geniais, o resultado acabou ficando bem satisfatório". Usando um pijama como roupa, o novo guitarrista estreou na banda num teste de força, tendo em vista que sua guitarra quebrou logo depois das duas primeiras canções. Mas a banda não deixou cair a bola. Renato já era um grande
entertainer, emendou uma
jam com a
platéia –
Adahn, e fez bonito. "Viramos a zebra do
páreo", recorda Dado. "Nos saímos tão bem que a galera resolveu nos dar a maior força". Na
platéia, uns
cinqüenta gatos pingados assistiam ao
show. "Só tocamos umas sete músicas. Era mais um negócio de tocar para os amigos, uma festa...", avaliou.
Logo depois, uma matéria publicada na revista Pipoca Moderna, escrita por Hermano
Vianna, irmão do líder dos
Paralamas, chamou a atenção da imprensa nacional para o movimento brasiliense. "O cerrado contra-ataca", escreveu. Em pouco tempo, graças aos
Paralamas, que já haviam montado a banda, gravado o primeiro compacto com a
EMI e mandavam ver nos
shows Conexão
Amazônica, Tédio (com um T bem grande para você) e Química, a Legião desceu para o eixo Rio-São Paulo para fazer suas primeiras apresentações.
Nas mãos, a primeira demo do grupo, com quatro canções – Ainda É Cedo, Conexão
Amazônica, A Dança e Petróleo do Futuro, gravadas no estúdio
Gravasom, no Brasília Rádio
Center, mesmo prédio onde a banda mantinha uma sala de ensaios, junto com Capital, Plebe e
XXX. A demo chega, pelas mãos dos
Paralamas, à Rádio Fluminense do Rio, que a inclui na programação. Em
julho daquele mesmo ano, o grupo toca no Circo Voador – o mais importante templo do rock carioca -, junto com o Capital Inicial e Lobão. Em
outubro, foi a vez de encarar a
platéia do Napalm, uma das grandes
danceterias de São Paulo, também ponto de encontro dos
roqueiros paulistas, e, novamente, fazer o Circo. Rapidamente, a fama da Legião no circuito alternativo começa a crescer, despertando a atenção da
EMI, que propõe a gravação de um compacto com Geração Coca Cola. A proposta não agrada os três, já que a gravadora quer uma versão
country (?!?) para o velho hino dos tempos do Aborto. Seguem-se novas apresentações, até que a banda fecha o contrato, depois de muitas desavenças com a
EMI, que queria empurrar Marcelo
Sussekind, guitarrista da banda carioca
Herva Doce, para a produção, e contando com um novo integrante: Renato Rocha, o
Negrete,
egresso da banda de
hardcore Dents Kents.
No início de 1985, a
EMI lança Legião Urbana, com produção do jornalista José Emílio
Rondeau, em meio ao Rock
In Rio, que consagrou os
Paralamas e incluiu o Brasil no roteiro das grandes bandas de rock americanas e inglesas. "É a única maneira de ver o seu produto bem divulgado, já que a produção independente, além de muito cara, atinge só a um público de elite", definiu Renato, em entrevista à jornalista
Wilma Lopes, publicada no Jornal de Brasília. "Há o lado negativo, mas este é contrabalançado pelas vantagens do lado positivo, que é bem maior. Com jeito, se faz muita coisa. Conseguimos fazer o disco como queríamos, desde a escolha da música até a capa e o encarte".
A banda lançou o disco em duas apresentações realizadas em março daquele ano na Escola Parque de Brasília. "Essa é a nossa primeira produção de verdade", disse Dado, na época. Os shows, antológicos, mostravam que havia algo maior no ar. As duas apresentações tiveram casa cheia. O sucesso na cidade já havia sido consolidado com apresentações ao longo de 1984 nas cidades-satélites. Taguatinga abrigava o Teatro Rolla Pedra, espaço garantido às bandas brasilienses, que se multiplicavam.
O jornalista Celso Araújo, em artigo publicado no Correio Braziliense, não poupou elogios. "O disco é veloz, tem a marca mesma da agilidade e da tesitura urbana brasilienses", escreveu. "Legião Urbana faz uma crônica sentimental, sem futilidades", destacou. "Os legionários são o petróleo do futuro".
O disco chegava às lojas junto com o fim da ditadura militar e o início do processo de redemocratização do Brasil, que via nascer a Nova República. "A gente tem esperança que as coisas vão melhorar. É daqui de Brasília que vai surgir a garotada nova, com idéias novas, não só na música, mas no campo das artes em geral", previa Renato. "Para o futuro, planejamos muita música, muitos agitos, muito trabalho e tudo de bom".
E assim foi... duas décadas depois, a poesia e a música de Renato estão aí, servindo de exemplo e inspiração de vida para todos.
* Olímpio Cruz Neto é jornalista e colaborador de Senhor F. - Essa matéria foi publica no site da Revista do Senhor F.